3 de outubro de 2009

Casca de Arroz Carbonizada

Ótimo material orgânico para substrato e um excelente condicionador de solo

1 - Sobre a casca de arroz e sua carbonização

A casca de arroz (também conhecida como palha de arroz) é composta de 20% de matéria inorgânica e 80% de matéria orgânica. Da fração orgânica temos: 50% de celulose, 26% de lignina e 4% de outros componentes como óleos e proteínas. A alta concentração de lignina e celulose impede o processo de decomposição da casca de arroz e reduz a biodisponibilidade dos outros compostos da casca de arroz. A decomposição orgânica da casca de arroz só é possível em meio aeróbico na presença de certos fungos específicos. Sobre condições anaeróbicas, como na compostagem, a casca de arroz não irá se decompor.


O processo de carbonização da casca de arroz foi identificado como método ideal para contornar o problema de excesso de lignina e celulose. A casca de arroz carbonizada (CAC) é resultante da combustão incompleta da casca de arroz sobre alta temperatura e condições de baixo oxigênio (pirólise). A pirólise causa a decomposição da lignina e da celulose liberando resíduos de carbono, sílica e outros minerais.





2 - Por que usar CAC?

CAC é excelente para dar permeabilidade e porosidade ao substrato, ao mesto tempo que contribui com residual de matéria orgânica e inorgânica.


Alem disso a CAC é um material extraordinário para ser usado no próprio solo de cultivo como condicionador do mesmo. O leito fica mais poroso permitindo melhor aeração das raízes. A cinza contida na CAC contribui com nutrientes como a sílica para cultura, além de potássio, cálcio, magnésio e outros micronutrientes. A CAC ainda melhora a retenção de água, contribui para uma leve elevação do pH e também melhora a capacidade de troca catiônica (CTC) do solo.


CAC é muito usado para fazer bokashi já que a é um meio natural de proliferação de microorganismos benéficos, podendo ser usado inclusive como meio inoculante de EM ou bactérias fixadoras de nitrogênio.

Outras utilidades para CAC são:
- purificação de água, já que a CAC é rica em carbono fixado (ativado) e este tem a capacidade de filtrar a água;
- controle de pragas, por ser rica em silica é um bom repelente de lesmas e caracóis;
- supressor de odores para cama animal, etc...

Sempre tentei carbonizar casca de arroz para usar como substrato no meu berçário e como condicionador de solo nos meus cultivos, pois alem das vantagens acima o saco de casca de arroz aqui na minha cidade sai por R$ 0,20.


Das várias tentativas que fiz nunca tive sucesso total, pois na maioria das vezes o fogo apagava, por falta de oxigênio, e tinha que acender de novo... e de novo... e de novo!


Encontrei na internet uma técnica usa nas Filipinas e na Tailândia que utiliza pouca madeira para queima e otimiza a utilização da energia gerada. É esse método que passo a descrever.


3 - Materiais necessários para construção do carbonizador

- Uma lata de 3,5 lts de tinta usada (ou outra qualquer de 2 a 4 litros);
- Um abridor de latas;

- Um prego 17 X 21 e martelo ou furadeira elétrica com broca de +ou- 3,5 mm polegadas;

- Um cano de 15 cm de diâmetros e aproximadamente 1,20 mts de comprimento (usei um cano de antena parabólica que encontrei no ferro velho) que será usado como chaminé.


4 - Procedimentos
1 – Usando o abridor de latas, retire a borda da lata onde a tampa se apóia;

2 – Faça um furo no fundo da lata do diâmetro interno do cano da chaminé;

3 – Utilizando o prego, ou a furadeira, faça centenas de furos na lateral da lata, deixando de 1 a 2 cm de distancia entre eles. Quanto mais furos, mais rápida será a carbonização.


Carbonizador

5 - Material necessário para carbonizar a casca de arroz
- Palha, madeira, estopa e outros materiais para queimar;

- Querosene e fósforo;

- De 1 a 3 sacos de casca de arroz;

- Uma pá;

- Carbonizador construido acima;


6 - Procedimento

1) Encher o carbonizador com o material a ser queimado (madeira, palha, etc...);

2) Embeba a estopa em um pouco de querosene, coloque fogo na estopa e coloque o carbonizador sobre ela;

3) Coloque a chaminé sobre o carbonizador;

4) Despeje o saco de casca de arroz sobre o carbonizador. É muito importante que toda o carbonizador seja coberta pela palha, não deixando nenhuma fresta.
5) Após uns 20 minutos a casca começa a ficar preta, indicando que a carbonização está ocorrendo perfeitamente.


Com o tempo, a casca queimada começa a perder densidade e o monte de casca começa a se desfazer, deixando o carbonizador exposto. Nessa hora joga-se, com ajuda da pá, a casca da base do monte sobre o carbonizado para cobri-lo totalmente novamente. Se o carbonizador não estiver
totalmente coberto com a casca de arroz você terá somente cinza.


Carbonizador + chaminé já fumegando (A)
Carbonizador + casca de arroz (B)


Carbonizador fumegando e casca de arroz já iniciando a carbonização (C)
No fim do processo, casca de arroz já toda carbonizada (D)

Quando toda a casca estiver carbonizada, remova com a pá o material carbonizado do carbonizador e espalhe em uma fina cada para que esfrie. Depois de fria, a CAC pode ser usada ou estocada.

CAC espalhada para esfriar

7 - Dicas:
- CAC pode participar com até 33% do volume total do substrato final;
- Se tiver arvores ou pomar em casa, carbonize a casca de arroz no meio do pomar ou debaixo de uma arvore para aproveitar a fumaça gerada como fonte de CO2 para as árvores;
- A quantidade de casca de arroz que se transforma em cinza é rica em sílica, por isso use uma mascara para manipular a CAC para evitar problemas pulmonares;
- Muito cuidado com a chaminé e o carbonizador, durante e depois do processo, pois eles ficam muito quentes e pode provocar queimaduras ao mais simples contato;
- Esse carbonizador é suficiente para carbonizar de 1 a 3 sacos de casca de arroz de uma vez só. Para carbonizar de 4 a 30 sacos, use uma lata de 18 lts e uma chaminé de 1,80 a 2 mts de altura. O esquema para construção do carbonizador de 18 lts é o mesmo do de 3,5 lts;
- O mesmo processo usado para casca de arroz pode ser usado para carbonizar outros materiais como sabugo de milho, bagaço de cana, etc...


8 - Fontes:

- Application Of Rice Husk Charcoal, Practical Technologies No 2001-4 da Food and Fertilizer Technology Center (FFTC);
- Carbonized Rice Hull, Rice Technology Bulletin no. 47 2005;

- Como fazer e esterilizar substratos orgânicos. Milton Maciel, Editora Solo Vivo.

10 de abril de 2009

EM-5

Bioestimulador para suas plantas


Postei anteriormente, em EM, sobre como produzir o EM-5. Após pesquisar mais sobre o assunto e ajuda de um amigo Filipino (Gil Carandang) descobri que, para produzir o EM-5, não bastava somente acrescentar Yakult ao EM-4 (como havia explicado no artigo sobre EM). Era necessário outro processo, bem simples porem, que explico a seguir.

O que é e como age:
EM-5 é um fermentado anaeróbico fitosanitário natural à base de EM-4, vinagre e álcool. Basicamente o EM-5 age aumentando, de maneira natural, a vitalidade e o sistema de defesa das plantas contra insetos nocivos e doenças, reforçando seu sistema imunológico.

EM-5 apresenta, alem dos microrganismos ativos, presentes no EM-4, ésteres insolúveis que dão vigor a planta, que adquire assim a força suficiente para poder superar enfermidades, resistir a pragas e parasitas e recuperar-se de qualquer outro fator de debilidade.

Ingredientes:
– 10% de EM-4;
– 10% de melaço ou caldo de cana;

– 10% de vinagre natural de maça;
– 10% de cachaça (ou outra bebida com teor alcoólico próximo de 50%);

– 60% de água da mina ou declorada.


Procedimentos:
1 – Se for usar melaço, misture água morna com o melaço até dissolve-lo completamente; aguarde a mistura esfriar antes de executar o passo “3”;
2 – Se for usar caldo de cana, basta misturar a água ao mesmo;
3 – Acrescente o vinagre, a cachaça e por ultimo o EM-4;
4 – Coloque a mistura em uma garrafa de plástico, coloque a tampa e aperte a garrafa para sair todo o ar que sobrou dentro da mesma (para que a fermentação seja anaeróbica), e só então apertar bem a tampa;
5 – Acondicione a garrafa em um local escuro, bem ventilado e ao abrigo da luz;
6 – Caso a garrafa se encha naturalmente de ar novamente, desrosqueie a tampa da mesma levemente, até sair todo o ar, aperte a garrafa novamente para retirar todo o ar e aperte novamente a tampa.

O EM-5 está pronto quando não houver mais produção de gás dentro da garrafa e quando se percebe um odor de estéres/alcoólico doce e agradável. Geralmente, para atingir esse estágio, levam-se de 2 a 4 semanas.

Acondicione a garrafa em local escuro, fresco e com temperatura agradável e constante (não guardar na geladeira) por até 3 meses.

Aplicação:
- EM-5 age a longo prazo e para se obter todos os seus benefícios deve-se aplica-lo com regularidade.

- Pulverizar nas folhas o EM-5 diluído em água de mina, ou declorada, na proporção de 1:500 ou 1:1000 imediatamente após a germinação da planta ou em culturas já estabelecidas, 1 vez por semana, no período da manhã ou após chover.

ATENÇÃO: Não usar o EM-5 numa concentração maior que as indicadas, principalmente na época de fortes secas, pois há prejuízo no crescimento e aparecimento de pontos amarelos nas folhas, devido apenas ao PH ácido, não significando presença de substâncias tóxicas

- Em caso de enfermidades: diariamente ou em dias alternados, pela manhã, até solucionar o problema.

- Caso tenha usado produtos pesticidas/fungicidas químicos, aguardas uma semana, aplicar o EM-4 e na próxima semana aplicar o EM-5.

Dicas:
- Pode-se continuar o uso do EM-4, nas regas, juntamente com o EM-5, via foliar, sem problemas;
- Em uma cultura, onde se aplica EM-4 e EM-5 desde a germinação da planta, a aplicação de EM-5 pode ser feita de duas em duas semanas ou mensalmente;
- Para obter um EM-5 com um espectro maior de ação, podem-se misturar a ele, depois de pronto, alho, cebola, folhas de nim, pimenta, etc; deixar curtir por uma semana e usar;

Fontes:
- Gil Carandang;
- Asian Pacific Natural Agriculture Network;

- Microorganisms for agriculture and environmental preservation; Higa, Teruo; P33-69, Non-bun Hyo;

- Organic Corner, Gil Carandang, Organic Matters magazine Vol. 2, Issue 3, No 4 and Vol 3, Issue 2, No 7